A Calça que Andava Sozinha
Nina, de sete anos, adorava fuçar no sótão da vovó. Num velho baú coberto de poeira, encontrou uma calça jeans cheia de patches coloridos que brilhavam como estrelinhas. Curiosa, vestiu-a ali mesmo. Na mesma hora, a calça esticou as pernas sozinha e deu um passo firme. Nina arregalou os olhos: aquelas calças… andavam!
Sem esperar convite, a calça levou Nina até a cozinha, saltou sobre a mesa e atravessou a pia como se fosse uma ponte estreita. Depois saiu pela porta dos fundos, caminhando na beirada da cerca do jardim, tão alto que o gato Pudim miou assustado lá embaixo. Nina ria e segurava o chapéu, enquanto a calça a guiava pelo quintal, pelos bancos do parque e até pelo corrimão de uma escada, como se fosse uma pista de skate.
Mas logo a aventura virou preocupação. A calça atravessou a rua sem olhar o trânsito e subiu num caminhão de sorvetes parado. Nina pediu:
— Calça, espera! Eu não quero ir aí!
A calça, porém, parecia não escutar.
No centro da praça, as pernas mágicas pularam direto para a borda de uma fonte enorme. Água espirrava para todos os lados, e Nina quase escorregou. Com o coração acelerado, ela se lembrou do que o vovô sempre dizia: “Peças mágicas obedecem a quem fala com gentileza”. Então respirou fundo, segurou firmemente o cós e falou baixinho:
— Calça, você é incrível, mas eu preciso ficar segura. Vamos caminhar pelo chão, devagar? Por favor?
A calça tremeu, como se entendesse, e deu um passo cuidadoso de volta à calçada.
A partir daí, Nina descobriu que bastava dizer aonde queria ir, e a calça obedecia contente: levou-a até a biblioteca, depois ao alto de um morro para ver o pôr do sol, mas sempre pelos caminhos que Nina escolhia. Antes de dormir, ela dobrou a calça com carinho e sussurrou:
— Amanhã escolhemos outro lugar diferente, juntos.