A Loja de Lembranças Esquecidas
No fim da rua das Amoras, entre uma loja de tapetes empoeirados e uma quitanda de jabuticabas, surgiu uma nova vitrine. Ninguém viu a loja sendo construída, mas lá estava ela: “Lembranças Esquecidas & Cia.”, escrito em letras douradas que pareciam brilhar por dentro.
Lia, uma menina de olhos curiosos e cabelo preso com duas maria-chiquinhas, não resistiu. Empurrou a porta de madeira, que rangeu suavemente, e entrou.
Lá dentro, não havia brinquedos, roupas ou doces — apenas prateleiras com pequenos objetos: uma pedrinha azul, um bilhete amassado, um botão de casaco, uma fitinha vermelha… E cada item tinha uma etiqueta com algo escrito:
“Primeira risada com o vovô”,
“O cheiro do colo da mãe”,
“O som da chuva num domingo feliz”.
Lia andava encantada até que viu, sobre uma mesinha de canto, uma pulseira de miçangas coloridas. A etiqueta dizia:
“A tarde do piquenique no lago, quando prometemos ser amigas para sempre.”
Ela reconheceu na hora. Aquela pulseira era da Bia, sua melhor amiga… ou melhor, ex-melhor amiga. Desde uma briguinha boba no recreio, não se falavam mais.
Com o coração apertado, Lia pegou a pulseira. A loja não tinha caixa, nem vendedor. Mas, ao tocar o objeto, ela sentiu um calor no peito, como se a lembrança voltasse a viver dentro dela. Ouviu risadas, viu a toalha xadrez no gramado, as formigas roubando um pedaço de bolo, e o momento exato em que prometeram amizade eterna.
No dia seguinte, Lia esperou Bia na saída da escola. Com a mão trêmula, entregou a pulseira.
— Eu... encontrei isso. E lembrei como aquele dia foi especial. Desculpa pelo recreio.
Bia sorriu devagar, como quem também se lembrava. E, sem dizer nada, abraçou Lia forte, como se aquele tempo esquecido nunca tivesse ido embora.
Na manhã seguinte, quando Lia voltou à Rua das Amoras, a loja não estava mais lá. Só havia um papel no chão, com letras douradas:
“Algumas lembranças precisam ser devolvidas para florescerem de novo.”