O Dia em que Bento Virou Bolota
Bento era um menino curioso, que vivia perguntando:
— Mamãe, como é ser um cachorro?
Bolota, o cãozinho da família, só respondia com um latido e um abanar de rabo.
Numa manhã diferente, após um desejo sussurrado antes de dormir — “Queria tanto ser o Bolota por um dia...” — Bento acordou sentindo algo estranho. Tentou bocejar, mas só saiu um au. Olhou para suas mãos... e viu patas! Olhou para o espelho e... era o Bolota!
Do outro lado do quarto, Bolota — agora no corpo de Bento — esfregava os olhos, confuso, e murmurava:
— O que... eu falei?
No começo, foi uma diversão só! Bento (no corpo de Bolota) correu pelo quintal, cheirou tudo, cavou buracos e sentiu o vento nas orelhas. Bolota (no corpo de Bento) descobriu que podia abrir a geladeira, alcançar a prateleira de biscoitos e... falar!
— Eu sou um gênio! — exclamava.
Mas, aos poucos, as coisas ficaram esquisitas.
Bento não conseguia segurar uma colher para tomar sorvete, nem usar o banheiro sozinho. E Bolota teve que fazer lição de casa, tomar banho com água fria e, pior de tudo... ir à escola!
— Humanos são malucos — resmungava.
Na escola, Bolota tentou imitar Bento, mas esqueceu de responder à chamada, latiu no meio da aula de ciências e quase comeu o lanche do colega.
Já Bento, preso no quintal, percebeu como era chato ficar sozinho, esperando atenção.
À noite, os dois se encontraram perto da cama. Sentaram-se frente a frente.
— Ser você é mais difícil do que eu pensava — disse Bento.
— Ser você me deixou cansado! — disse Bolota.
Os dois suspiraram juntos e, como num passe de mágica, uma luz suave os envolveu. Piscaram — e pronto! Cada um de volta ao seu corpo.
Na manhã seguinte, Bento deu um abraço apertado em Bolota. E o cãozinho respondeu com uma lambida caprichada.