O Menino que Só Andava de Ré
Tico era um garoto cheio de ideias diferentes. Certa manhã, ele acordou decidido: “Andar para frente é muito normal. A partir de hoje, eu só ando de ré!”
Na rua, vizinhos acenavam confusos enquanto Tico caminhava para a escola olhando tudo pelo retrovisor da imaginação—de costas, mas com os olhos bem abertos.
No recreio, os colegas gargalhavam:
— Lá vai o Tico-Caranguejo!
Mesmo assim, ele seguia firme, descobrindo detalhes que ninguém notava: uma minhoca fazendo curvas na terra, a sombra de uma nuvem em formato de dragão e até a borboleta que pousava num mesmo bebedouro todos os dias.
Mais tarde, no pátio, Tico esbarrou—de ré—num calombo estranho na calçada.
Agachou-se (ainda de costas!), afastou pedrinhas e viu algo brilhando: uma pequena tampa de metal escondia um compartimento raso. Dentro dele, havia uma chave enferrujada com a letra “B” gravada.
Tico correu—bem, correu de ré—até a bibliotecária Dona Célia.
— Encontrei isto olhando para trás!
Curiosa, Dona Célia lembrou-se de um armário antigo na sala de leitura, sempre trancado. A chave encaixou perfeitamente. Lá dentro, encapadas em tecido azul, estavam velhas fotografias da primeira turma da escola, desenhos de ex-alunos e um álbum inteiro de cartas trocadas com escritores infantis famosos. Um tesouro de memória que ninguém sabia existir.
Na manhã seguinte, a diretora reuniu todos no auditório. Tico, corado e sorridente, foi aplaudido quando as relíquias foram expostas.
— Quem diria que andar de ré revelaria um pedaço da nossa história!—disse ela.
Tico piscou para os colegas:
— Às vezes, basta mudar o ângulo para enxergar o que está bem debaixo do nosso nariz… ou dos nossos calcanhares!
Moral: Quando olhamos o mundo por outro ângulo, descobrimos surpresas que passam despercebidas aos olhos apressados.